[26/10/11] Medos

Sempre achamos que já passamos por coisas horríveis, e que esse tipo de coisa nunca mais voltará. Até que então nas 2 últimas semanas, tive o maior medo, o maior susto da minha vida.

Acho que todo ser humano normal tem amor pelo seus pais. Por mais que nos decepcionem de vez em quando. Por mais que em algumas horas queremos mandar todos eles tomar naquele lugarzinho.

Todas as mães dizem que se mexer um com filho, é como cutucar uma onça com vara curta. Mas, se invertermos a situação? Como fica? Se mexerem com o que mais temos de precioso na vida, aliais, com quem nos deu a vida? Nossa mãe. Como reagiriamos?

Eu sei bem como eu reagi.

Num domingo de muita calmaria no decorrer do meu dia de trabalho (sim, eu estava no trabalho), resolvi ligar pra casa para falar com a minha mãe. Afinal, não tinha a visto no sábado, eu estava passando o final de semana na casa do namorado.
Resolvi ligar pra ela era um pouco mais de 19 horas...Quando um dos meus irmãos me dão um choque. "-- Ué Ju, você não tá sabendo? Sua mãe tá no hospital --"

Naquela hora eu não escutei mais nada do que ele disse. Só tive o reflexo de pegar meu celular e ligar pro meu padrasto. Pra ela. Pra alguém que eu esperava estar com ela.
Quando eu finalmente consegui ter alguma notícia, me disseram que ela tinha passado mal, e que os médicos estavam achando que ela tinha tido um derrame, um AVC. Como que é?! O.o'

E de novo, entrei em pânico. Como assim a MINHA mãe passa mal com uma coisa séria dessas e ninguém se dá o trabalho de me ligar?
O "acidente" occoreu antes da hora do almoço. Ou seja, horas interminaveis se passaram até eu saber de algo. Um completo absurdo.

Saí da loja correndo, desesperada, sem saber o que fazer. Larguei tudo. Entrei em pânico, desespero ou seja lá como eu poderia classificar o que tava passando dentro do meu coração.
Só queria vê-la, com meus próprios olhos. Mas, no estado no qual eu me encontrava, não dava pra ir atrás dela. Eu só chorava e tremia, tremia como uma louca. Totalmente descontrolada. Iria piorar as coisas no hospital. Por sorte, o meu namorado (Tiago), estava em casa e conseguiu me prender lá até meu nervosismo diminuir um pouco.

Consegui algumas horas depois, falar com ELA. E ela já sabendo que eu estava em pânico, tentou me acalmar. Como toda mãe faz. Falando que ela estava bem. E que tinha sido só um susto.

Um pouco depois, meu irmão mais velho, me manda uma mensagem dizendo que ela estava sendo transferida pro CTI de um outro hospital. "Puta que pariu, CTI? Como assim? CTI é lugar pra gente que tá na merda de verdade. Que tá de mãos dadas suplicando a Deus pela vida. Ou não?"
Como a minha mãe estaria indo pro CTI? Logo ela, sempre tão forte, tão determinada, que já passou por cada coisa que até Deus duvida de vez em quando.

Como que uma pessoa pode manter a calma numa hora dessas? Ainda mais eu, que sou a que fica logo desesperada com qualquer coisa que aconteça com ela ou com meu irmão mais novo.

Enfim, na segunda, dia 17/10 fui visita-la. E só então meu nervosismo diminuiu um pouquinho de nada. Ela ainda estava no CTI e graças a Deus, logo em seguida, enquanto eu ainda estava lá, ela desceu pro quarto. E eu pude ficar mais um pouco com ela. (o horario de visitas do CTI é apenas de MEIA HORA!)

Fui pra casa ainda meio nervosa, preocupada, peguei umas folgas pendentes na loja, e pude focar nas coisas que iam ficar pra fazer em casa e nas coisas que ela ia precisar a partir daquele dia.
No mesmo dia que fui visita-la, vim em casa, peguei as coisinhas dela, e voltei pro hospital, pra deixar as coisas mais confortaveis pra ela. Uma correria danada.

Essa coisa horrível de hospital durou uma semana. E graças a Deus de novo, no domingo dia 23/10, ela estava de volta em casa. De volta pra mim.

Mais só eu sei o que se passou na minha cabeça e o que se passa até agora. Afinal, quem tem o primeiro AVC fica bem frágil pra ter outro. E os "acidentes" ficam piores conforme a quantidade. Tenho um medo mortal disso.

Minha mãe é uma pessoa super saudável, praticamente vegetariana, não come carne vermelha, mal come frango e peixe. Vive na base da soja e de legumes e verduras. Não tem pressão alta, não  está acima do peso, não tem gordura nas artérias. Pulmão perfeito. Toda saudável, linda!

E ela simplesmente teve o AVC por estresse, por um aborrecimento que ela teve na noite anterior. Tem noção do que o estresse pode fazer com qualquer pessoa? Se ela que não tinha nenhuma propensão a ter um AVC, teve um leve. Imagina quem tem todos os sintomas propícios a ter um? Nossa Senhora, que medo.

Ela felizmente não ficou com nenhuma sequela grave e irreversível. Apenas uma coisa boba. Que dentro de alguns meses vai estar resolvido. o/

Mas, a partir de hoje, muitas coisas vão ter que mudar em casa. Por ela. Por eles. Por Mim. Porque não sei o que seria da minha vida hoje em dia sem ela ao meu lado. Ainda sou nova, tenho um monte de medos, de duvidas, de inseguranças sobre a vida, sobre tudo. E é sempre ela que me ajuda. Não tenho mais ninguém. Infelizmente.

E não sei o que faço se mais algum acidente desses acontece por mais uma besteira. Por mais uma infantilidade por parte de pessoas pequenas. Que não sabem o teor da palavra família. Que não sabem o que é chegar em casa e ter uma mãe pra te dar colo, pra vibrar com você, pra chorar com vc. Pra viver por vc se fosse necessário.

Nunca passei por maior medo de perder alguém como nessas ultimas semanas. E não sei do que sou capaz se mais alguém tentar feri-la dessa forma. Porque simplesmente, amor de filho por mãe, é incondicional, sem razão, sem maldades. É um amor daqueles que faz vc dar a vida por aquela pessoa.

Precisava muito escrever sobre isso, porque o perdão só vem com o tempo. E sim, estou profundamente magoada e preocupada com tudo que aconteceu. Da forma como aconteceu.
Não é um simples pedido de desculpas que muda todo o quadro, que muda a historia. Isso só vem com o tempo. Não que eu não tenha aceitado as desculpas, não é isso. É simplesmente aquele rancor amargo de quem quase fez vc perder a coisa mais importante da sua vida.

Disse outro dia desses que toda mãe (mãe de verdade) como a minha, deveria receber um elixir da vida, uma pedra filosofal, deveria levar uma mordida de vampiro, deveria ser IMORTAL de alguma forma. Acho que nenhum filho merece perder alguém que tanto ama. Da mesma forma que nenhuma mãe aguenta perder um filho.

É isso. Obrigada a todos que leram e de alguma forma se sensibilizaram.